Gianfranco, por onde andam os Electras da Varig?
Por Gianfranco Beting
Desde janeiro de 1992, devo ter ouvido esta pergunta um zilhão de vezes. Mas nunca me canso de responder sobre minha aeronave predileta: a memória logo traz a saudade dos elegantes quadrimotores da Lockheed, que com seus quatro Allison produziam uma música única, que jamais esquecerei. Suas linhas elegantes, suas enormes janelas e poltronas, seu espaço interno e até seus cheiros estão para sempre marcados em mim. Pode parecer estranho para aqueles que não viveram a época do Electra, mas quem viveu sabe do que estou falando. Para quem teve essa sorte, o privilégio de poder voar nos 15 quadrimotores operados pela Varig entre 1962 e 1992, lembrar do Electra nunca é demais. Para os novatos, pode parecer incompreensível ainda haver interesse por um avião que deixou de voar no Brasil há 12 anos. Pode parecer incrível ainda falarem num avião "a hélice," como se costuma dizer na época, implicitando o interlocutor que o Electra talvez fosse ultrapassado. Claro, moderno não era. Mas se o preço da modernidade é andar espremido num antisséptico Boeing ou Airbus, bem, então devo ser a pessoa mais retrógrada do mundo.Mas veja que não estou só. Ainda hoje o Electra é citado em rodinhas de aficcionados, sempre acompanhado por um suspiro de saudade. Por falar em saudade, ela cresceu a tal ponto que em 1997 fui para o Alaska especialmente para voar nos últimos dos 169 Electras construídos que ainda transportavam passageiros em serviços regulares em todo o mundo. Três máquinas da Reeve Aleutian ainda voavam por lá. E esta é outra história que você pode ver aqui no Jetsite.Mas o fato é que em 6 de janeiro de 1992, uma segunda feira de muito sol, os últimos vôos (especiais, para convidados) com os majestosos quadrimotores foram realizados, celebrando quase 30 anos de serviços ininterruptos, exemplares. Nesta data, com grandes comemorações, a Varig aposentou os seus últimos Electras, substituídos pelos Boeing 737-300, desde então o principal equipamento da companhia na prestigiosa Ponte Aérea Rio-São Paulo.Electra: o avião mais seguro de nossa aviaçãoA frota de 15 Electras que serviram na Varig bateu muitos recordes em nossa aviação. Se não foi o tipo mais longevo, foi certamente o mais seguro. Em toda a sua vida operacional em nosso país, apenas um, o PP-VJP, acidentou-se: foi em 5 de fevereiro de 1970 durante um vôo de treinamento em Porto Alegre. Fora isso, apenas panes ou incidentes como pousos de emergência sem a bequilha, fato que ocorreu com o PP-VLA e com o PP-VJM. E nada mais.Assim, nos seus 30 anos em serviço, a frota de 15 aeronaves da Varig voou nada menos que 777.140 horas, ou o equivalente a 88.7 anos sem sofrer nenhum acidente fatal! Neste período, foram nada menos que 736.806 pousos, numa média de 55.510 horas de vôo por aeronave e 52.629 ciclos por avião. Isto dá em média 4.93 pousos por dia, durante todos os 10.675 dias deste longo período. Os números impressionam mesmo: foram 217 milhões de quilômetros voados, ou 17.500 vezes a volta completa ao redor do mundo. Mas... o que aconteceu com cada um deles? Muita gente acredita que foram vendidos para os Estados Unidos, outros pensam que não há mais nenhum Electra em operação. Para desfazer tantas especulações, o Jetsite agora se encarrega de contar o paradeiro de cada um dos 14 Electras que serviram a Varig até 1992. Com o rigor de praxe, com a paixão de costume, listados por ordem cronológica, ou seja, a partir de seus primeiros vôos.
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